Folha da Manhã 16-09-2014
Lei do silêncio é regra nas escolas
Faltando menos de
20 dias para as eleições, a Prefeitura de Campos intensificou uma espécie de
“Lei do Silêncio”. A regra é clara: de acordo uma circular encaminhada aos
responsáveis pelas unidades escolares, “imprensa e vereadores só entram com
autorização da secretaria de Educação”. Para o vereador Dayvison Miranda (PRB), que faz parte da bancada governista,
“tem gente rasgando a Constituição”. Ele garante que, se for barrado em alguma
escola, haverá problemas “doa a quem doer”. O desabafo do vereador foi
publicado no Facebook e replicado pelo blog “Na Curva do Rio”, hospedado no
site da Folha.
Com o deputado
federal Anthony Garotinho (PR) na disputa pelo governo do estado, veículos de
imprensa do Rio circulam por Campos em busca de informações sobre o estilo de
administração do grupo político liderado pelo parlamentar. Porém, o que
encontraram foram as escolas blindadas e funcionários em silêncio. E não é
apenas a imprensa que sente dificuldade. Na semana passada, os vereadores Rafael Diniz (PPS) e Fred Machado (PSD) foram
barrados em duas escolas municipais. “Conversamos com os responsáveis pelas
escolas, mas não conseguimos entrar. Fomos eleitos para fiscalizar e não
estamos conseguindo trabalhar. Será que só podemos ver as escolas na propaganda
oficial, com maquiagem e textos ensaiados?”, indaga Rafael, que tem conversado
com pais de alunos e professores. “O que a gente escuta é bem diferente da
maquiagem cor de rosa. Em uma escola os pais tiveram que se unir para comprar
um ventilador”, conta Rafael Diniz.
Para o vereador
Dayvison Miranda, “o medo de encontrar coisas erradas” é muito grande. “É tão
grande que estão agindo de forma precipitada, rasgando a nossa Constituição ao
proibir a entrada da imprensa e dos vereadores. A desculpa é o motivo
eleitoral, alegando perseguição. Continuo e continuarei fiscalizando. E ai de
quem proibir a minha entrada na unidade, doa a quem doer”, enfatiza o vereador
Dayvison.
Uma semana após a
divulgação do novo ranking do Ideb, que mostra o município de Campos evoluindo
da última para a antepenúltima posição, sem conseguir alcançar a meta
projetada, Rafael Diniz e Fred Machado visitaram três escolas municipais e
encontraram uma nova unidade escolar, localizada no distrito de Travessão,
sendo utilizada para abrigar famílias, enquanto alunos estudam em casas
alugadas. “É o retrato do improviso e da falta de planejamento e competência.
Famílias moram na escola nova e crianças estudam em casas alugadas e sem
estrutura”, desabafou Fred Machado.
Professoras
desabafam nas redes sociais
Se os funcionários
que possuem cargos de confiança não podem falar, os professores concursados,
que não seguem as ordens da cartilha, revelam os bastidores. Em carta aberta à
prefeita Rosinha, a professora Luciana Soares Marques fez um desabafo. “O que
me deixa mais triste é saber que o professor que é comprometido sofre
perseguição. É uma pena que eu esteja sendo ‘forçada’ a tirar minha licença
prêmio, devido à falta de gestão coerente. Com isso quem sai perdendo são os
meus queridos alunos”, disse a professora, que aguarda desde 2012 melhorias
prometidas para Escola Municipal Jacques Richer.
Em outra carta
aberta, a professora Cláudia Gouvêadiz: “Estive olhando agora o contracheque,
são apenas dois salários mínimos. 11 anos de carreira, turmas lotadas, nenhum
aparato, dignidade zero. Sabe, prefeita, uso boa parte do meu salário na compra
de remédios controlados que a senhora não fornece em seus postinhos… ganhei uma
depressão e uma síndrome do pânico em sala de aula, sem contar com a bursite
por esforço repetitivo, que adquiri com os quadros feitos pra gigantes”,
protestou.
A.B.L.
Foto: Divulgação