Na semana passada, meninos de 11 a 13 anos começaram a ser vacinados
contra o HPV em Campos de Goytacazes (RJ). A cidade se une a Taboão da
Serra (SP), que adotou a prevenção no ano passado, e a Farroupilha (RS),
município pioneiro em incluir o imunizante no calendário de vacinas
para o sexo masculino.
Vacina anti-HPV protege também os meninos; algumas cidades brasileiras já imunizam os garotos
Estudos mostram que a imunização protege a população masculina contra verrugas ge
'Se vacinarmos meninos cedo o suficiente, devemos ser capazes de
prevenir a maioria dos casos de verrugas genitais externas nessa
população' - Joel Palefsky, professor de medicina da Universidade da
Califórnia em São Francisco (Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
'Se
vacinarmos meninos cedo o suficiente, devemos ser capazes de prevenir a
maioria dos casos de verrugas genitais externas nessa população' - Joel
Palefsky, professor de medicina da Universidade da Califórnia em São
Francisco
Diversas pesquisas apontam que indivíduos com a vida
sexualmente ativa terão contato, pelo menos uma vez, com o vírus do
papiloma humano (HPV). Porém, nacionalmente, apenas as meninas de 11 a
13 anos são vacinadas contra a infecção pelo patógeno. A distinção entre
os sexos para a imunização acende dúvidas em pais, educadores e até
mesmo crianças e adolescentes que são o alvo da campanha. Se a
transmissão é sexual, por que não vacinar também os homens, que poderão
passar o vírus para suas parceiras e sofrer consequências do contágio?
De fato, a cada momento, são maiores as evidências de que a imunização é
eficaz para proteger jovens do sexo masculino do desenvolvimento de
verrugas genitais e cânceres do tipo peniano, anal e de garganta.
Com base nesses resultados, a medida começa a ser aplicada em alguns
países e também em cidades brasileiras. Na semana passada, meninos de 11
a 13 anos começaram a ser vacinados contra o HPV em Campos de
Goytacazes (RJ). A cidade se une a Taboão da Serra (SP), que adotou a
prevenção no ano passado, e a Farroupilha (RS), município pioneiro em
incluir o imunizante no calendário de vacinas para o sexo masculino.
Cada um desses dois municípios espera vacinar pelo menos 3 mil
adolescentes este ano, repetindo a meta de 2013.
A vacina adotada
no Sistema Único de Saúde (SUS) é a chamada de quadrivalente, por ser
eficaz contra quatro tipos de HPV: 6, 11, 16 e 18. Essa é também é a
única forma aprovada atualmente para o uso em meninos. A idade mais
favorável à imunização para ambos os sexos está entre 9 e 13 anos. Nesse
período, a vacina tende a garantir maior proteção, pois é mais provável
que os adolescentes não tenham iniciado a vida sexual e, assim, não se
expuseram ao vírus.
Eficiência confirmadaA primeira evidência
científica de que a vacina contra o HPV é efetiva em homens surgiu em
fevereiro de 2011, com a publicação de um artigo na renomada New England
Journal of Medicine, produzido pelo Centro de Câncer H. Lee Moffitt e
pela Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), ambos nos
Estados Unidos. O estudo confirmou as suspeitas de proteção do
imunizante contra o desenvolvimento de verrugas genitais e cânceres
anais, peniano e de garganta na população masculina.
As taxas de cobertura
encontradas foram bastante altas. Cerca de 90% para as verrugas genitais
quando a vacina foi oferecida antes da exposição do indivíduo aos
quatro tipos de HPV combatidos pelas doses. Essa eficácia atingiu 66% na
população geral de homens jovens independentemente da exposição prévia
às diferentes cepas do vírus. Além da prevenção contra verrugas, a
vacina impediu também a infecção pelo HPV efetivamente persistente em
86% dos voluntários sem exposição prévia.
O ensaio clínico durou
quatro anos e incluiu 4.065 homens saudáveis com idades entre 16 e 26
anos, abrangendo 71 cidades em 18 países. Desses participantes, 85%
relataram ter exclusivamente parceiros sexuais femininos, sendo que o
restante afirmaram ter relações sexuais com homens. Todos foram testados
no início do trabalho para a exposição prévia a cada tipo de HPV e,
então, selecionados aleatoriamente para receber um placebo ou a vacina
quadrivalente. Aqueles com histórico de verrugas ou lesões genitais ou
anais foram excluídos. Após as doses, os pacientes fizeram seis exames
de acompanhamento ao longo de três anos para avaliação da eficácia da
medida.
“Isso mostra que, se vacinarmos meninos cedo o
suficiente, devemos ser capazes de prevenir a maioria dos casos de
verrugas genitais externas nessa população”, observa o professor de
medicina da UCSF Joel Palefsky, um dos líderes da pesquisa. Os dados
iniciais, antes da publicação do trabalho, levaram a agência de
vigilância sanitária norte-americana (Food and Drug Administration —
FDA) a aprovar a vacina para meninos em 2009. O pesquisador acredita que
a vacina também é uma arma importante contra a transmissão do HPV para
mulheres, uma vez que cerca de 60% a 70% das adolescentes americanas não
receberam as três doses recomendadas. Na época da publicação do
trabalho de Palefsky, ainda faltavam evidênicas que garantissem a
prevenção ao câncer anal, genital e da garganta. Não demorou muito até
que elas aparecessem.
Mortes evitadasEm
pouco mais de oito meses, Palefsky publicou, na mesma revista, outro
ensaio clínico internacional indicando que a vacina contra HPV é segura e
eficaz para prevenir o câncer anal. “Nos EUA, quase 6 mil pessoas são
diagnosticadas a cada ano com câncer anal, e mais de 700 pessoas morrem
da doença. O ensaio mostra que esses tumores e mortes poderiam ser
prevenidos”, lamenta Palefsky, que também é fundador da Anal Neoplasia
Clinic, no Centro de Câncer Helen Diller Family Comprehensive, da UCSF,
primeira clínica do mundo dedicada à promoção da investigação,
sensibilização, prevenção e rastreamento do câncer anal.
O estudo
envolveu 602 homens com idades entre 16 e 26 anos que fazem sexo com
homens da Austrália, do Brasil, do Canadá, da Croácia, da Alemanha, da
Espanha e dos Estados Unidos. Eles afirmaram ter tido pelo menos um e
não mais que cinco encontros sexuais. Conforme descrito no artigo, a
vacina reduziu a incidência de lesões precursoras de câncer em cerca de
75% dos que não foram previamente expostos a qualquer um dos tipos de
HPV presentes na vacina. Entre aqueles que sofreram exposição, o
imunizante reduziu a incidência das lesões pré-cancerígenas em 54%.
Exemplo maternoOs
meninos são mais propensos a receber a vacina quadrivalente contra o
papilomavírus humano (HPV4) se suas mães tomam cuidados com a própria
saúde, buscando medidas como vacinas contra a gripe ou exames de
Papanicolau, de acordo com um estudo publicado no American Journal of
Public Health. O trabalho examinou os registros de saúde de mais de 250
mil meninos com idades entre 9 a 17 anos inscritos no Plano de Saúde
Kaiser Permanent Southern California e descobriu que um total de 4.055
meninos (ou 1,6% dos membros nessa faixa etária) iniciaram a vacina HPV4
entre outubro de 2009 e dezembro de 2010. Os pesquisadores descobriram
que a taxa de vacinação foi 16% maior nos garotos cujas mães receberam a
vacina contra a gripe no ano anterior quando comparados aos filhos de
mulheres não imunizadas. Além disso, a taxa de vacinação era de 13%
maior naqueles cujas mães tinham feito um exame de Papanicolau nos
últimos três anos.
"Se vacinarmos meninos cedo o suficiente,
devemos ser capazes de prevenir a maioria dos casos de verrugas genitais
externas nessa população” - Joel Palefsky, professor de medicina da
Universidade da Califórnia em São Francisco